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Numa noite qualquer alguém, por um motivo estranho e enigmático, se divertiu destruindo as árvores da nossa cidade. A noticia ecoou com o sussurro do vento na manhã seguinte, em que, como que atordoados por um imenso pesadelo, os rostos impávidos e atónitos contemplavam a visão da madeira estarrecida no chão. Em todos a ânsia de encontrar o responsável, de o crucificar com toda a dor possível, com todo o sofrimento que lhe fosse permitido suportar. Fizeram-se assembleias de freguesia, a noticia foi comentada nos jornais, as conversas de jardim esqueciam o futebol e falavam do terrível flagelo que se abatera sobre Freamunde. A condenação de tal impraticável acto atroz foi unânime...E ninguém pensou parar um segundo que fosse para reflectir sobre o porquê...
O “porquê” que tanto motivou filósofos, que tantas transformações motivou.
O “porquê” que caracteriza a humanidade, que a tirou das trevas da ignorância.
O "porquê" que é o último grito de revolta que nos resta...
Não pactuamos, aqui na Revolta, com estes actos que em nada dignificam Freamunde, mas, ao contrário de todos, queremos interpretar, compreender, tentar perceber as razões, os motivos. Não queremos, como o fazem aqueles que se intitulam “Sábios de Freamunde”, procurar, desenfreadamente, condenar a juventude. Dizer que se perdeu, que são só uns “arruaceiros”, uns selvagens, como se o futuro não lhes pertencesse.
Não poderá tal acto ser entendido como o apelo à necessidade de mudar algo? Já repararam no ar taciturno que ostentam as noites de Freamunde? Parece envolvido em escuridão, não de luz, mas de vida! A noite, em Freamunde, é sem vida. As pessoas amedrontaram-se face ao quadro que deixamos que pintassem de Freamunde: Droga, violência, medo. Todos fugirm e deixaram, triste e solitário, o pobre lago a jorrar água na tristeza dos seus longos e abandonados dias. Até o café fechou relegando o lago ao esquecimento!
Onde estão as pessoas?
Enjauladas no seu ego, no seu medo, nos discursos sem entusiasmo e alarmistas de quem teria o poder de mudar.
Como achar então estranho que a noite traga a proclamada “selvajaria”?!
A culpa é nossa! De nós todos, que abandonamos Freamunde.
Como podemos condenar se fomos nós os réus?! Como entender essas reuniões de freguesia, esse julgamento publico sem hipotese de defesa, essa condenação implacável e em nada civilizada?!
Freamunde perde-se nos discursos que ninguém escuta das campanhas eleitorais. Nos discursos de candidatos que ninguém vê, de presidentes que ninguém apoia, de presidentes que nem um olhar de respeito são capazes de mostrar, presidentes que esquecem que existem para representar o povo...
A Revolta está aqui. Não para defender actos de loucura ou inépcia mental.
Mas para mostrar que Freamunde EXISTE para além dos juizes da loucura.
A Revolta começou...
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